Todo mundo já sabe que 300, dirigido por
Zack Snyder, é baseado na mini-série em quadrinhos escrita e ilustrada por Frank Miller. Todo mundo sabe também que todos os cenários do filme são virtuais e que ele foi feito pra ter uma estética parecida com a história em quadrinhos. Então nem vou comentar isso.
O fato é que Frank Miller, que eu adoro, escreve quase sempre a MESMA história: um cara durão, reacionário e fascista que é machão, fortão e misógino que não tem tempo pra essas frescuras de sentimentos. Sempre é assim. Seu Batman é assim, seus personagens em Sin City são assim. Quando Miller leu sobre o povo espartano, deve ter entrado em êxtase! Toda uma nação que era exatamente como seus personagens principais!
Não me entenda mal, eu adoro a HQ, mas eu sei o que ela é. Os 300 de Esparta (tradução da Abril) é a história de um povo que nasceu pra combater, de uma frieza e brutalidade impressionantes. Não são lutadores da liberdade, não são bonzinhos. É um povo que mata crianças que nasceram fracas ou com alguma deformidade, que não tolera fraqueza ou sentimentalismo. Não é o bem contra o mal. É uma luta de culturas.
A HQ está longe da correção histórica ou política. O filme vai ainda mais longe. Então, se você se importa demais com a História, nem vá ao cinema. O filme trata os persas quase como monstros. O exercito persa é cheio de aberrações, monstros, eles são tratados como degenerados, pervertidos e, claro, os escravizadores na luta contra os espartanos defensores da liberdade e da democracia. Na vida real as coisas não são bem assim. Tanto Xerxes como Darius (seu pai) são tidos como alguns dos melhores imperados já vistos, o Império Persa primava pelo trabalho assalariado e, lógico, os persas não eram monstros.
Tá, depois disso tudo você deve achar que eu odiei o filme, não é? Não! Eu achei o filme muito divertido. Esqueça que se trata de uma história baseada em fatos reais e se divirta. É um filme muito bonito visualmente, tem cenas que são idênticas à revista, mas ainda assim não soam forçadas. As cenas de luta são impressionantes! Aliás, o filme é cheio dessas cenas impressionantes. Aquelas cenas que se fôssemos americanos levantaríamos da cadeira e gritariamos "Fuck yeah!"
Apesar de incrível, o mais impressionante do filme não é o visual, e sim em COMO é gay. Meu Deus, esse deve ser o filme mais gay dos últimos anos. O homoerotismo está presente em doses altíssimas. Desde o obviamente afrescalhado Rei Xerxes do Rodrigo Santoro até... bem, até o figurino capa, capacete e sunga dos espartanos. Ver 300 é mais ou menos como ver uma luta de vale tudo: você fica o tempo inteiro com medo daquilo virar filme pornô. No momento em que Xerxes bota as mãos nos ombros de Leônidas a platéia inteira fez "hmmm".
Por falar em Xerxes, Rodrigo Santo fez um bom trabalho com o personagem, que convenhamos, é bem ridículo. E só não se tornou completamente ridículo justamente por conta do bom trabalho dele.
300 é isso. Um filme divertido, muito legal, empolgante, cheio de sangue e braços e pernas voando, mas vazio, bobo e até besta. Um ovo de chocolate: bonito e gostoso por fora e oco por dentro.