Escrever é ter foco. Mais importante do que cortar palavras, ou evitar adjetivos é conseguir manter o foco. Não se perder no turbilhão de assuntos que surgem a todo instante e acabar não comentando nada ao tentar comentar tudo. Como se centrar em apenas um ponto com tanta coisa acontecendo? Silvio Tendler finalmente lançando seu filme sobre Glauber Rocha, o dicionário Aurélio mudando de editora, Rock in Rio Lisboa, a geração dos filhos-cantores, uma nova geração de cineastas surgindo e assim por diante.
Não, esquece o que eu disse.
Escrever é ser original. Como escrever sobre a entrega do Oscar sem cair no óbvio de dizer que é uma festa feita pela indústria cinematográfica norte-americana para celebrar a indústria cinematográfica norte-americana? E não prosseguir dizendo que devemos evitar essa postura ufanista, que cinema não é futebol e Oscar não é copa do mundo, que ter conseguido quatro indicações já foi ótimo e isso vai dar mais visibilidade para o cinema nacional?
Não, apaga o que eu escrevi.
Escrever é saber desenvolver o assunto. É conseguir discorrer, por exemplo, sobre a revalorização do samba por músicos contemporâneos como Los Hermanos e Marcelo D2, que tratam o samba não como um componente exótico ou pitoresco, mas como uma influência básica e fundamental pra qualquer um que seja brasileiro, sem que o texto fique muito curto e superficial, mas também sem deixá-lo muito longo e pernóstico. É encontrar o meio termo, levar uma informação que possua profundidade, mas que se mantenha ao mesmo tempo leve, divertida e agradável.
Não, nada disso.
Importante mesmo é o seguinte: nunca escrever sobre escrever. Demonstra falta de originalidade do autor, preguiça na hora de escrever a coluna e, além disso, é chato, pedante e pretensioso. Textos metalingüísticos estão em baixa, os leitores não gostam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário