domingo, janeiro 14, 2007

Besteira

- Seja sábia.

Silvia sorriu. Será que somente Sandro saberia solucionar seus senões?

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"Agora basta", Cecília disse.

Então, Fagundes gelou. Havia, infelizmente, já ladrado muitos nãos. "Oras, por quê?", replicou soluçando. Tentou uma vez. Xi... Zerou.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Sem surpresas

Era uma vez um jovem de 23 anos cuja vida se encontrava em uma encruzilhada. Percebeu que para seguir adiante precisava fazer algo que nunca tinha feito. Decidiu-se por uma tatuagem.

Pensou durante um bom tempo que imagem seria. Dragões, tribais, ideogramas, palavras em sânscrito ou hebraico não combinavam com ele. O rapaz tinha alguns interesses específicos, em particular cultura pop. Pensou em quadrinhos. Tatuar o símbolo da jaqueta de Jack Knight? Muito colorido. Talvez o "rosto" do Rorschach? Too creepy. Quem sabe Calvin e Haroldo num trenó? Muito infantil. Foi pra outro interesse: Cinema. Tatuar personagens, cenas de filmes? Muito complicado. Música? Nomes de bandas, logos. Idéia interessante, mas seu gosto por música mudava toda semana. Hoje adorava British Sea Power, mês que vem era muito mais Regina Spektor.

Sobrou uma última grande paixão: os livros. Na parte interna do braço esquerdo tatuou em letras grandes "Lo. Li. Ta." e embaixo, em letras menores colocou: "My sin. My soul." Gostou. Um tempo depois voltou e botou a primeira frase de Cem Anos de Solidão no braço direito. Ficou viciado.

Com o passar dos anos, tatuou de tudo. Um trecho de O Grande Gatsby, o final de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Não parou mais. O início de Mrs. Dalloway. A descrição que Cervantes fez do "cavaleiro da triste figura" em Dom Quixote de La Mancha. Num momento de tristeza tatuou no lado esquerdo do peito a inscrição que segundo A Divina Comédia se encontrava nos portões do Inferno. No pulso direito colocou um 42. Com o passar dos anos todos estavam lá. Pynchon, Pamuk, Shakespeare, Vargas Llosa, Flaubert, Veríssimo, Machado, Woolf, Proust, Dante, Moore, Gaiman, Fonseca. Seu corpo era uma lembrança de suas leituras. Era uma lembrança de sua vida.

Aos 50 anos, todo seu corpo estava tomado por palavras. Apenas seu rosto era uma página em branco. Aos 68 foi diagnosticado com uma doença muito grave. Resolveu que era a hora de encerrar seu "livro". Foi até um tatuador. Duas semanas morreu. Tinha estampada em sua testa sua mais recente e última tatuagem:

"Fim."

Pedido

Se algum dia eu chamar alguém de "braço", por favor, me sacrifiquem.

domingo, janeiro 07, 2007

É assim que funciona

Você é jovem
Até que não.

Você ama
Até que não.

Você tenta
Até não poder.

Você sorri
Até chorar.

Você chora
Até sorrir.

E todo mundo tem que respirar
Até seu último suspiro.

É assim que funciona.


Cortesia da Regina Spektor

Rito e Método

Eu sou ritualista e metódico. Nunca pensei ser uma das duas coisas, mas sou.

Por isso eu vivo me explicando. Adoro me explicar. Passo horas e horas dando explicações. Acabo explicando pequenos trechos das explicações mesmo a pessoa não pedindo. Sou detestável. Mas faço isso porque preciso do desfecho. Preciso do "sim" ou do "não". Preciso da certeza que a pessoa entendeu tudo o que eu quis falar e eu preciso da certeza de que sim, ela entendeu. E que sim está tudo bem. Isso faz com que eu pareça um grande inseguro. O que eu não sou. Tudo bem, um pouco.

Ok, o que isso tem a ver com ritualismo?! Bem, pra mim o "então está tudo bem mesmo, né?! Você me entendeu?!" É um ritual. É um ritual de encerramento. Essa é a vantagem. No momento em que o último "tudo bem" foi dito, tudo se encerra. Eu não guardo mágoa, rancor, não guardo nada. Tudo se encerra no fim do ritual. No outro dia estou novo. Esse é meu método.

Isso me faz pensar no quanto eu acho que os ritos de passagem fazem falta para a humanidade. Fazem falta ao menos pra mim. Eles são símbolos que uma parte de sua vida se encerrou e outra está começando. Sem eles tudo fica meio nebuloso. Eu as vezes acho que a razão de até hoje me achar mais um menino do que um homem foi porque ninguém me deu apenas uma lança, me jogou sozinho na floresta e disse "se você sobreviver por cinco dias, é um adulto". Qual é o evento da vida moderna que nos diz claramente que somos homens? Nenhum. Por isso hoje somos meninos de mais de 20 anos jogando video-game e morando com a mãe.

Talvez aí esteja a explicação para o amadurecimento precoce das mulheres. Elas ainda têm um ritual: o baile de debutante. É um rito meio vazio e sem significado, mas é alguma coisa. Ainda é um "estou sendo apresentada a sociedade. Sou uma mulher".

Eu gosto de ritos, gosto de rituais, gosto do aspecto simbólico deles. Festas de casamento, despedidas de solteiro, velório, réveillon, missa de sétimo dia para os católicos. Todos esses pequenos momentos da vida em que esquecemos o dia a dia e nos dedicamos a simbolicamente celebrar ou sofrer para encerrar uma fase e iniciar outra.

sábado, janeiro 06, 2007

Definições

Humor é rir dos outros. Comédia é rir da gente.

Tipos de gente - 2

Hoje vou falar sobre um tipo de pessoa muito irritante. É aquela pessoa que..

- Sempre sabe sobre tudo que você vai falar!

Ahn... Err.. É, ela é muito chata porque no meio da sua frase...

- Ela te interrompe e não só termina o que você ia falar como adiciona informações para mostrar como ela entende sobre aquele assunto.

É, ela faz isso. Pra esse tipo de gente não basta ter conhecimento. Ela precisa que você saiba disso. Aliás, mais! Ela precisa que você perceba que ela sabe muito mais sobre isso do que você. Se você mencionar que gosta das pinturas de Picasso...

- Ela vai logo dizendo que Picasso foi mesmo um grande pintor. Aí vai acrescentar com informações como "mas eu pessoalmente tenho muito apreço pela fase azul. Que por sinal, começou após a morte de um amigo dele..."

É... Tem coisa mais irritante?! Eu sei que você sabe tudo sobre Picasso. Não precisa me falar. Se estivéssemos conversando sobre Picasso, tudo bem. Mas, não! Eu apenas disse que gosto das pinturas dele!

- Pessoas muito chatas!

Ô! Ahh.. Sim, esse "tipo de gente" foi sugerido pelo Ygor.

- Ygor Helbourn... formado em jornalismo e publicidade. Toca bateria em algumas bandas, como Regra Zero e Gioconda. Sabia que ele também tem um blog? É... O nome é Pitacando.

Ahn... Acho que deu pra vocês entenderem.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Ano Novo

Vários anos atrás, vários quilômetros de distância, existia uma tribo. Na verdade, existiam várias tribos. Mas só vamos falar de uma.

Como todas as tribos daquela região, os homens caçavam e pescavam e as mulheres cozinhavam, cuidavam das crianças, das casas e de quase tudo mais. Para chamar atenção do sexo oposto, os homens faziam marcas no corpo com lâminas e as mulheres usavam adereços nas orelhas e supercílios. Como todas as tribos, guerreavam, matavam os membros das tribos rivais. Os vencedores levavam tudo. Terra, mulheres, animais e até as batatas.

Como todas as tribos, passavam seus conhecimentos, tradições e rituais para os jovens através de histórias.

Perto do fim do ano, as avós contavam para as meninas mais jovens da família a história de como os anos surgiram. Elas, diziam que muitos e muitos séculos atrás, numa época em que os seres humanos tinham dois sexos, quatro braços e pernas e não sabiam o que era a perda nem o amor, os anos não existiam. Nessa época os animais eram amigos dos homens e existiam vários deuses e monstros. Inclusive um que devorava mundos.

O tempo apenas seguia adiante. Tinha verão, outono, inverno, primavera e várias outras estações que não existem mais. O que não se sabia é que quanto mais os dias passavam, mais perto o mundo ficava da boca do devorador de mundos. Os homens e os animais não sabiam o que fazer. Criaram jangadas pra irem até o fim do mundo tentar matar o devorador de mundos, mas as flechas e zarabatanas não o alcançavam. Fizeram uma assembléia e finalmente tiveram uma boa idéia.

Pediram ao condor que pedisse ajuda ao deus-que-movimenta-as-coisas. Esse deus era o responsável por movimentar os rios, os ventos, o sangue. Ele se sensibilizou com aquelas criaturinhas daquele planetinha tão insignificante e bonitinho e os ajudou. Pegou os dias e o colocou num círculo. Assim, sempre que o devorador estivesse prestes a abocanhar o planetinha azul, os dias recomeçariam e ele ficaria distante novamente. Assim surgiram os anos. E é por isso que deveriam celebrar e agradecer ao deus-que-movimenta-as-coisas.

Essa era a história que era contada para as meninas. A dos meninos era totalmente diferente, envolvia batalhas e mortes heróicas. Mas essa era história deles, não nos interessa.

Feliz 2007 para todos vocês! Que não sejamos devorados e possamos contar sempre com a bondade do deus-que-movimenta-as-coisas!