30 minutos para meia noite.
É dia 31 de dezembro de 2008. O homem está sozinho no hotel. Ele liga a TV que mostra pessoas celebrando a chegada do novo ano. Famílias falando dos planos para o Réveillon, prefeitos dizendo sobre a programação da festa em vários pontos da cidade. Ele está sozinho num quarto de hotel. Sozinho e bêbado. Ele olha para a TV e fala “Eles não entendem. Eles simplesmente não conseguem entender a tragédia que vai acontecer”.
15 minutos para meia noite.
O homem está tomando banho. Ele pensa nos sonhos que tem se repetido há meses. Ele sonha com deuses antigos. Deuses de antes de o mundo existir. Deuses que foram banidos por serem cruéis e monstruosos. Ele não queria acreditar no inicio, mas sabe que é verdade, viu em seus sonhos. Na virada de 2008 para 2009 os Esquecidos voltaram. Ele viu o que eles vão fazer. Viu seres-humanos virarem gado, viu povos serem chacinados, viu um país ser devorado.
5 minutos para meia noite.
“As pessoas temem o fim do mundo há tempos”, pensa. Nostradamus previu que seria no ano 2000, os Maias creem que isso acontecerá m 2012. Ele sabe que não. O mundo acaba em 2009. Não acabará com uma explosão, ou um dilúvio. O mundo vai acabar aos poucos, com dor e sofrimento. Ele chora ao lembrar-se das crianças em seus sonhos. “A hora está chegando”. Pega suas coisas, se arruma, sai de seu quarto e pega o elevador.
1 minuto para meia noite.
Talvez exista uma forma de impedir o apocalipse. Ele acredita nisso, foi o que viu em seus sonhos. Sacrifício humano. Se ele derramar sangue o suficiente, talvez os deuses antigos resolvam esperar um pouco. Talvez não invadam agora. É por isso que ele tem esses sonhos, pra saber o que deve ser feito. Pra ser um herói. É no que pensa enquanto se aproxima de uma multidão que aguarda a chegada do Ano Novo.
15 segundos para a meia noite
A contagem regressiva está para começar. Um homem no palco avisa a todos que em menos de um minuto será 2009. As pessoas comemoram.
Dez
A contagem regressiva começa. Ele olha pra mão e vê que apesar do banho suas unhas ainda estão sujas com o sangue da camareira que ele sacrificou há meia hora.
Nove
Ele está há um mês nesse hotel esperando esse momento. Um mês sozinho. Só ele e seus sonhos. Ele guardou o broche com o nome da camareira. Rose era o nome.
Oito
Ele tenta criar coragem. Sete segundos. “Tudo depende de mim”, pensa. Ele confere discretamente o equipamento que está sob sua roupa.
Sete
Ele olha em volta e tenta calcular quantas pessoas estão ao seu redor. “Será o suficiente?”
Seis
“Tem que ser o suficiente”. Ele tenta fazer o calculo de quantas pessoas ele conseguirá atingir. O bastante. Isso deve agradá-los. Isso tem que agradá-los.
Cinco
Pensa em sua família. Em como elas reagiram quando ele contou. Quando disse tudo sobre os sonhos, sobre os deuses antigos, sobre o sacrifício necessário. De sua mulher o chamando de louco.
Quatro
Ele se lembra dos olhares de suas filhas enquanto ele fazia o que precisava ser feito. Ele se lembra do grito da esposa amarrada na cadeira enquanto ele se aproximava com a faca ensanguentada. Era a vez dela.
Três
Ele sente o detonador em sua mão e os quilos de dinamite ao redor do seu corpo, sob o casaco. “Será que é o suficiente”, ele se pergunta mais uma vez. Ele olha pra multidão ao seu redor fazendo a contagem regressiva.
Dois.
O dedo aperta firmemente o detonador. “É agora”.
Um.
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